A ordem das coisas
Há coisas que nos acontecem fora do tempo, desajustadas, que nos fazem constantemente imaginar um passado diferente e idealizar um futuro mais afinado.
Comboios que partem antes da hora, segundo os relógios que trazemos nos pulsos, e outros que nos fazem esperar, desesperadamente, para, quando finalmente chegam, o nosso lugar já estar ocupado por outro artista que tresanda a suor e já vem ali sentado desde "cascos de rolha".
Comboios que partem antes da hora, segundo os relógios que trazemos nos pulsos, e outros que nos fazem esperar, desesperadamente, para, quando finalmente chegam, o nosso lugar já estar ocupado por outro artista que tresanda a suor e já vem ali sentado desde "cascos de rolha".
E não há forma de contornar esta ordem desordenada.
Não há forma de esperar que um dia a vida aconteça na sua ordem natural: sem trocas e baldrocas. Quisesse eu, um dia, sentar-me num assento de comboio e dormir profundamente durante todo o caminho sem que ninguém me incomodasse por julgar ser esse o seu lugar. Quisesse eu alugar uma carruagem inteira para me sentar onde me desse na "real gana": fazer o pino, dormir atravessada, ocupar quatro lugares com as pernas e os braços. Esticar-me e ser tudo meu. Por eu querer, por eu merecer, por ser meu.
Estou tão habituada ao "andar da carruagem"...
Já me habituei a isto.
Volta e meia levanto-me, dou o lugar a outros, tolero os que vão sentados no meu lugar...
Mas não me chateio.
Mas não me chateio.
Sei que não era suposto. Tenho a certeza de que não era suposto!
Mas sei que aquele comboio vai exactamente para onde eu quero ir. Nem que chegue depois da hora.
Mas sei que aquele comboio vai exactamente para onde eu quero ir. Nem que chegue depois da hora.
Desordenado!
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