Tinta e papel

Nas viagens ao coração da papelada que se acumula nas minhas mesas, nas minhas prateleiras, nas minhas gavetas e até mesmo entre páginas de bons livros, acabo sempre por encontrar matérias que me arrancam expressões de espanto, felicidade e, por vezes até, interrogações.
No meio de tanta, mas tanta coisa, encontrei algo que me fez parar para pensar. Nem me lembrava de o ter escrito. Nem me lembro, sequer, de um momento em especial que tenha provocado todo o sentimento que imortalizei no papel... Primeira página do meu "Moleskine" que, desde que criei o blog, ficou encostado na prateleira. Não esquecido. Apenas encostado. A verdade é que gosto de ver a minha letra em papel. De verdade, gosto. O que aqui escrevo é meu. Mas em qualquer pedaço de papel, nem que seja a lápis, é muito mas muito mais meu.
Resolvi partilhar convosco o "achado" essencialmente por ter sentido, ao lê-lo, que "hoje" o poderia perfeitamente ter escrito novamente...
Com o mesmo sentir.

"01. Janeiro.2007
Deparei-me com uma necessidade louca e desenfreada de comunicar através da escrita. Chega de sons, berros, gritos, suspiros e olhares. Por comunicar tanto desta forma nos últimos tempos, dou por mim a chorar com muita vontade como se me tivesse magoado na escola e fosse para casa com tanta dor... Insuportável a dor. Torna-se sufocante. "O que te dói? Ninguém te fez mal e se o fez foi sem intenção..." E o que entendem vós por fazer algo sem intenção? Aplica-se a casos únicos ou a repetições, vezes sem conta, mesmo depois de dizer "estás a magoar-me"? Não suporto dor sem intenção... Faz, a quem magoa, sentir que sai impune e, a quem é magoado, sentir um vazio e uma tristeza imensa. Entre crianças tudo se simplifica: pede-se desculpa, dá-se um beijinho e tudo passa. No minuto seguinte ninguém se lembra do "dói-dói" que ficou no joelho.
Costumo dizer que quando perdemos a inocência perdemos tudo. Deixamos de chorar quando nos magoam. Deixamos de berrar com a dor. Deixamos de acusar os malfeitores e começamos a guardar rancor... Começa-se a engolir a dor por parecer mal exteriorizá-la. Começamos a chorar por dentro e a soluçar de desespero por ninguém ver que o fazemos copiosamente. Começa-se a sentir a solidão... aquela que não permite a existência de amigos imaginários. A lucidez! Sanidade?!
Afinal, berrar é preciso. Quanto mais não seja, a gritar em CAPS LOCK! Pedir a quem quer que seja que nos faz mal para ir à mer** e a outros lados (obrigar é o termo mais correcto). E as consequências destes berros são desastrosas. Incontroláveis, por vezes.
Novo ano, nova vida, novos sonhos e vontades. Gostava de poder compreender todos os que me rodeiam. Os que me amam e os que me odeiam. Pois assim conhecer-me -ia melhor. É nos outros que encontramos a nossa essência. É para os outros que nos "perfumamos". Umas vezes sós, outras vezes levados pela mão. Umas vezes a magoar e outras a sofrer. É nos outros que nos revemos. É na vontade e necessidade dos outros em me olhar e tocar de perto, que vejo o quanto sou feliz. Por vezes nada!
Na verdade gostava de voltar a ter amigos imaginários. Não nos falham, não nos magoam, fazem-nos sentir especiais, deixam-nos chorar quando temos vontade e ainda ouvem o que achamos deles.
Neste momento desejo a todos os que vivem na cápsula do silêncio que se soltem. Desejo a todos os que acreditam no amor que continuem a acreditar e a partilhar. Desejo a todos os que dizem gostar de mim que não desistam de me conhecer...
Eu ainda não desisti!"


Comentários

minhoca disse…
Olá Olá Mary!!
como eu te compreendo... ainda por cima na situação em que estou!!
é verdade, exteriorizar as emoçoes é tido como sinal de fraqueza... se n o fosse, se n fosse para parecer superior a todos, a esta altura já teria gritado a plenos pulmoes, chorado, ofendido... tudo e todos os que agora me rodeiam!!!
antes n conseguia nem por um momento esconder se estava triste ou aborrecida c alguma coisa... agora, tenho de andar por aqui a fingir que para mim está tudo bem... qdo na realidade n está, de facto está tudo realmente mal!! desde o início...
queria poder dizer aquilo que penso, mas a realidade é que n vale a pena... para quê?? é essa frustração que aprendemos quando crescemos e n choramos c a dor...
é triste... preferia continuar a chorar quando caio... e ter sempre a minha mãe a dar-me beijinhos e acreditar que passa!!!

tocou-me muito!! significa isto que todos sentimos da mesma forma... e isso conforta!!

mtos beijinhos pistoleira!!

da tua amiga,
Joana
minhoca disse…
Olá Olá Mary!!
como eu te compreendo... ainda por cima na situação em que estou!!
é verdade, exteriorizar as emoçoes é tido como sinal de fraqueza... se n o fosse, se n fosse para parecer superior a todos, a esta altura já teria gritado a plenos pulmoes, chorado, ofendido... tudo e todos os que agora me rodeiam!!!
antes n conseguia nem por um momento esconder se estava triste ou aborrecida c alguma coisa... agora, tenho de andar por aqui a fingir que para mim está tudo bem... qdo na realidade n está, de facto está tudo realmente mal!! desde o início...
queria poder dizer aquilo que penso, mas a realidade é que n vale a pena... para quê?? é essa frustração que aprendemos quando crescemos e n choramos c a dor...
é triste... preferia continuar a chorar quando caio... e ter sempre a minha mãe a dar-me beijinhos e acreditar que passa!!!

tocou-me muito!! significa isto que todos sentimos da mesma forma... e isso conforta!!

mtos beijinhos pistoleira!!

da tua amiga,
Joana
MariMari disse…
Joanita,
Eu acho que vale sempre a pena mostrarmos o nosso ponto de vista. O problema de se dizerem as coisas é que por vezes parece que estamos numa conversa de surdos e mudos. Sem ponta por onde se lhe pegue.
A verdade é que a falta de exteriorização é tão má quanto o fosso comunicacional e a nítida falta de esforço por não entender o que o outro lado diz.
No fundo, por vezes, é encontrar as palavras certas no momento certo.
Mas isso, minha cara, é um tiro no escuro...
Relativamente à tua situação, já tiveste mais que provas que este é o teu ano de viragem. É apenas mais uma página que se vira. Pensa assim :)

Beijinhos
Inté
PauloG disse…
e eu também não...
apesar de tudo...
Unknown disse…
uMuito profundo!
Consegues sempre surpreender-me.

Mensagens populares