Somos Portugal

Nestas minhas demandas por Trás-os-Montes, nas quais tenho a oportunidade de pasmar (como gosto de pasmar!), cruzo-me com pessoas que me acrescentam. Que me dão parte daquilo que são. Não se sentem mais pobres, quando parto, e eu sinto-me muito mais rica.
Pela manhã reparo na forma como se movimentam as senhoras. Em dias de feira, andam carregadas. Olho para elas e reconheço-lhes um pouco da minha mãe. À porta do mercado juntam-se os homens, faladores, com a paciência do costume. Não lhes conheço, aqui, o meu pai. Conheço-o quando estou numa sala e vejo um senhor a pedir licença para entrar e a tirar a boina, em sinal de respeito.
De facto, perco demasiado tempo a pensar nas diferenças que separam os meus dois territórios. As coisas que procuro aqui não são as mesmas que procuro no litoral. Mas ambas existem, dentro das pessoas. Arrumadas em lados distintos, mas estão lá.
A perseverança existe. Num lado camuflada de teimosia, no outro de ambição.
As empresas que resistem, têm faíscas no olhar. Nem sei como explicar esta situação mas é o que lhes vejo: fogo!
Não consigo sair sem saber o que os move, o que os motiva, o que os alimenta. Não consigo sair sem garantir que saberei o caminho para voltar lá. Nem sequer consigo sair sem dizer de onde sou, onde nasci, de quem sou filha e irmã!
A verdade é que sou feliz, cá e lá, quando reconheço um produto de uma empresa destas no mercado. Não diria histérica, porque parece um bocado mal, mas feliz por saber que o código postal de uma caixa de bacalhau é o mesmo da terra que me viu nasceu. Feliz por saber que aquele vinho que bebo em casa de amigos na Gafanha, ou as alheiras que levo para as reuniões familiares, têm uma história. Conheço os olhos e as mãos dessa história. Às vezes, quando o grau de partilha é tal entre mulheres, até temos direito a beijinhos.

Unanimidade: "temos que fazer algo para sair deste buraco". Nós é que somos Portugal. Não somos mais nem menos que o litoral: somos diferentes.

E são.
E somos.
E somos todos Portugal.

Comentários

Por vezes o tempo, a curiosidade, o prazer de saber o que esconde atrás de um monte leva-nos até ao outro lado. E essa mesma curiosidade, que nos levou ao outro lado, faz-nos descubrir por vezes emoções, sensações, prazeres, que nos completam.
Esse estado momentâneo de completa satisfação, logo nos remete á realidade que nunca mais seremos completos, pois o nosso cerne foi deslocado para dois lugares geográficamente distantes, impossibilitando o estado de conformidade emocional. Mas esta mescla de culturas diferentes torna-nos únicos, e com todas essas sensações, e conhecimentos tornamo-nos únicos e simplesmente brilhantes em tudo o resto que fazemos. Vamos fazer este pvo brilhar de eslendor novamente. Devemos isso aos nossos antepassados.

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