rapinas

Todos os indivíduos são importantes, na sua medida. Numa cadeia trófica é tão relevante o nível ou posição que esse indivíduo ocupa quanto o número de indivíduos da mesma espécie, a população, essencial ao bom funcionamento da cadeia. Sempre que um destes fatores se altera, toda a cadeia sofre.

Nos últimos anos tem-se assistido a algumas mudanças significativas, algumas provocadas pela necessidade exacerbada do Homem em controlar tudo, quando a Natureza tem uma força tão própria e cega que arranja formas de ultrapassar, contornar, sobreviver contra todas as probabilidades. 

Num passado recente, foi instituído que as carcaças de animais mortos (ruminantes) deveriam ser recolhidas por entidades oficiais e reconhecidas pela DGAV para evitar questões relacionadas com a saúde pública e proliferação de doenças. Todos reconhecemos a importância deste procedimento e é inquestionável. Não obstante, este criou um desajuste na cadeia trófica. A acrescer à redução significativa da produção de animais em regime extensivo, verifica-se um hiato na cadeia trófica aquando esta retirada do campo, do habitat de todos estes animais pertencentes ao mesmo ecossistema. Passados uns meses, começou-se a perceber que os necrófagos já não eram assim tão necrófagos quanto isso... estava em causa a sobrevivência da espécie e para tal adquiriram outros comportamentos, adaptaram-se, tornaram-se ameaça para grupos que nunca sequer pensaram que se tornariam apetecíveis.

O Homem é um animal, aprendamos com a natureza! Se observarmos com a devida atenção, conseguimos estabelecer um justo paralelismo nestas relações entre indivíduos de espécies diferentes: quem se alimenta de quem, quem alimenta quem, quem alimenta todos e quem simplesmente rapina por vezes sem querer comer. Só pelo prazer de rapinar. Só para mudar de sítio.

Uma selva. Rodeamo-nos diariamente de selvagens. Que tomam por seu o trabalho resultante de uma vida dedicada a causas, a matérias, a pessoas... Abarbatam-se das pessoas, caramba. As nossas pessoas, que cuidamos com carinho uma vida. Assumem as nossas redes como se lhes pertencessem pelo simples facto de lhes sermos úteis, pequenos, muitos, translúcidos, honestos e genuínos. As nossas redes, por estes motivos, são sérias. São límpidas, não enganam. São reais. Houve riso, abraços e lágrimas associadas. Isso dá trabalho e, para trabalho, que vão os pequenos. Contas feitas, somos um nível baixo da cadeia.

Selvagens. Que se escondem, por vezes, detrás de valores morais para viver numa hipocrisia imensa sobre o posicionamento que devem ter na nossa cadeia trófica. Infiltram-se nos vários níveis e provocam o caos. Caos miudinho, num sussurro, numa palavra... avulsa, uma por semana. A entropia necessária para mudar a cadeia, transformá-la. No entretanto, alguns indivíduos morrem.

A inevitabilidade da morte, na sobrevivência.
E fica tudo bem.
Alguns indivíduos reinventam-se. Mudam. Nunca mais serão os mesmos, depois de investidas destas.
Isto, se estiverem sempre lúcidos...
Lúcidos.


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