"O riso das crianças dos outros"

Adoro. É verdade.

Não sei se por ter sido habituada a viver no meio das "crianças dos outros" mas adoro.

Contudo, já não conheço, em muitas crianças, este riso. De boca escancarada. Sem medo das parvoíces que saem, dos segredos que se perdem pelo caminho e de toda a maldade que mora nos adultos à qual são imunes.

Nos olhares das "crianças dos outros" reconheço um estado adulto apressado, ao empurrão, cheio de maldade, mentiras e mentes corrompidas. Um estado que não as permite "ser", existir, viver a inocência da sua criancice.
Moram numa vida que não lhes pertence por inteiro, que pedem emprestada de vez em quando e, quando lá moram, soltam risos e gargalhadas (daquelas que fazem doer a barriga de tanto rir!) e pulam de felicidade por se sujarem, por cair. 

Os adultos aparecem, criam tensão no olhar e nos gestos e, rapidamente, regressam àquele estado amorfo que as condiciona. Não sabem muito bem como, nem de que forma, nem onde, nem quem. Só sabem que os adultos querem que sejam assim!

Isto é assustador, digo.
Devia ser obrigatório, para muitos adultos, regressar à infância. Ao tempo em que viviam num mundo livre, que lhes permitia a existência de amigos imaginários, permitia brincar na rua, permitia abraçar e amar quem quer que fosse.

Eu, enquanto adulto, acho impagável as horas a fio de brincadeira com as minhas crianças. Acho impagável ser criança, pelo menos, uma vez por mês. Entrar na pele delas, sem abandonar o meu corpo. Olhar-lhes nos olhos e reconhecer um mundo misterioso, muito mais misterioso que o meu. Feito de espontaneidade. Feito de felicidade verdadeira.

Afinal de contas, é a nós que elas dão as mãos e nos abraçam quando se sentem desprotegidas e quando precisam de calor.
Somos ou não responsáveis pelos adultos de amanhã?!

Comentários

Mensagens populares