"A tragic love story"


Hoje tive a sorte de rever "Romeo and Juliet". Um "zapping" banal, como tantos outros, conduziu-me às memórias de uma adolescência em que ainda se desconhecia os clássicos da literatura. Ainda nos era permitido chorar com interpretações destas obras visto nos escapar variados pormenores e enredos. O choro de outrora não era bem choro... Era soluçar, de desespero. Por não poder fazer nada por aquela história de amor tão trágica. Que fins inglórios, achava eu...
A verdade é que, a pouco e pouco, fui aprendendo que as histórias de amor trágicas eram nada mais nada menos que um valente "core business". Da desgraça alheia, da desgraça universal, da própria desgraça... Uma forma inteligente de aproveitar as emoções que uma história trágica nos pode trazer: obras reeditadas, caixas de Kleenex, cobertores, chá... Insónias... Toda uma economia emergente, esta que gira à volta destas histórias trágicas.

Apesar de cobiçar todos os seus começos, achar-me envergonhada por me considerar merecedora de tal felicidade, nunca desejei para mim histórias deste tipo. Sempre acreditei que ninguém merecia viver tal sofrimento. Até ao dia em que começo a entender o que os poetas e os romancistas querem dizer nas suas obras, viver exactamente as mesmas sensações. Prevejo um fim trágico, não necessariamente manchado de sangue, e nem isso me demove das minhas convicções, dos meus sentimentos. Começo a entender o sentido da expressão batida "prefiro morrer a tentar que morrer por não tentar" e, em boa verdade, tudo isto me assustou. Nunca quis ser protagonista de uma história trágica de amor. Ainda que sem sangue derramado, sem morte anunciada, nunca o desejei. Há várias formas de morrer na vida... Não me revejo em nenhuma dessas formas, nem me revejo na viúva enlutada.

Os poetas e os romancistas encontraram um caminho para nos ensinar a acreditar em histórias cheias de acaso, de beleza, de partilha, de espontaneidade. Mas tiveram que arranjar fins trágicos para nos puxar, de volta, à terra. Ainda que esses fins ocupem apenas 3 páginas de um livro de 500 páginas, são eles os grandes responsáveis por permitirem que a história aconteça nas restantes 497. Por permitirem que o leitor, ainda assim, queira viver, cheio de vontade, antes de morrer.


(entretanto, nas minhas pesquisas à volta de Romeu e Julieta, lá encontrei algo que me fez sorrir. São estas horas e eu sem pregar olho. É ou não é um grande "core business"? :) )





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