Sobre o silêncio

A partir de certa altura na vida podemos dizer que temos teorias para tudo e mais alguma coisa que ninguém nos leva a mal. Sempre achei que as tinha e nunca as escondi mas coragem para as defender, como minhas, foi algo que apenas a idade e o tempo me trouxeram. Hoje gostaria de falar, particularmente, sobre uma teoria que tenho. Há anos que tenho esta teoria e não tem sido fácil viver com ela. Tem-me dado bem mais a perder que a ganhar. Mas chegou a hora de falar sobre ela. Desmistificar.
Acredito, piamente, que os silêncios são os momentos mais ricos (em termos de comunicação) que duas pessoas podem ter. Eu, que falo pelos cotovelos, raciocino nos silêncios. Falo pouco do que efectivamente me incomoda e assombra. Assento ideias e sentimentos nos silêncios. E crio silêncios ruidosos na minha cabeça nos quais voo constantemente para longe do local onde permaneço. Mastigo as ideias, quase que as rumino, até as vomitar e não poder mais com elas. Vivo tudo para mim, no silêncio. Grande parte das pessoas que me acompanham diariamente não fazem a menor ideia daquilo que vive dentro de mim. Por vezes, maior que mim mesma! Grande parte destas pessoas apenas sabem aquilo que eu quero, e que permito, que saibam. Por ser comunicadora, iludo. Ludibrio. Camuflo. Pensam que sabem mas não o sabem. Eu própria começo a acreditar que sei tudo sobre mim... quando na realidade sei silêncio!
Mas o silêncio não é mau.
É mau quando me rouba palavras e quando as troca de posição. É péssimo quando me obriga a comportamentos contraditórios e meu inimigo quando me impele a jogar de "adivinho" com alguém que me rodeia. É traidor quando nos empurra para os abismos do vazio... do nada... do silêncio entre duas pessoas.
Tenho esta teoria. Não é perfeita, eu sei.
Mas tenho a perfeita noção que apenas me lembro da voz dele a sugerir que eu escolhesse o vinho porque dentro de mim havia silêncio. Sei que ele se lembra da cor da blusa que eu levava, que combinava com o lenço e com a carteira, porque nos seus olhos havia silêncio. Sei que por muitos momentos comunicámos em silêncio. Sei que pedimos mutuamente ajuda pelo olhar. E quando permitimos o ruído de tudo o resto invadir a nossa vida, o vinho azedou, a blusa tinha uma nódoa e dividimos a conta a meias.


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