Podia ser pior

Pode sempre ser pior.
Algures no nosso mundo há sempre alguém que "está pior" que nós.
Às custas desse alguém nem sequer nos é permitido abrir a boca para nos queixarmos. Por uma questão de respeito e de consciência daquilo que entendemos como sofrimento, o melhor é mesmo guardarmos os queixumes cá dentro. Para morrerem connosco.
Em tempos de privação e provação é comum reconhecer à nossa volta situações que oferecem maior cuidado, respeito e admiração. Lutas compostas por coragem sem fim. Reinventar-se. Dedicação cega que não passa de uma mera luta pela sobrevivência. Sua e dos seus.
Há pessoas que atravessam verdadeiras dificuldades sem soltarem um "ai".
Outras há que berram a todo o pulmão. Não somos todos iguais.
E todos sofremos. Uns mais que outros. Uns calejados, outros mais tenros, todos sofremos.

Sim, podia ser pior.
Mas todos temos o direito a queixarmo-nos da dor que carregamos que, por vezes, é tão diferente da do vizinho...
Habituamo-nos a sorrir para espantar o negrume que, naturalmente, nos rodeia. E ninguém mede a dor que transportamos no bolso direito.

É importante cuidar dessas dores ocultas. Daquelas que não se manifestam e que nos respondem com sorrisos e com "lá vai indo." Mais importante que cuidar, respeitar!
Lembremo-nos: há sempre alguém que está pior que nós!

Mas é em nós que dói a nossa dor, e não a dos outros.
Não a adivinhamos, de certo. Mas podemos usar de um pouco da nossa sensibilidade e trincar um bocadinho a língua quando chega a hora de nos queixarmos.

A nossa dor, por ser nossa, não é mais pequena nem maior que a dos outros:
É apenas nossa!

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