"Tu passas-te!"

(Encontrei este texto perdido nos arquivos do blogue com data de 29/10/2015... Fiz uns ajustes e cá o publico.)

Pode ser que sim.
É que nem perco muito tempo a pensar nisso. Faço as coisas que tenho a fazer, mando quem tenho a mandar bugiar e pronto. Vivo bem com isso no momento. Depois, no rescaldo, chegam os "ses" e os "porquês" embora, geralmente, não contribuam para rigorosamente nada: acabo sempre por aceitar as minhas decisões e a viver bem com elas.
A verdade é que nós somos feitos de ontem e de hoje. Por vezes já cá temos, inclusive, o amanhã.
Não se pode pensar que há reacções e atitudes "avulsas".

Há algo de complexo em todo o crescimento interno e emocional de cada indivíduo. Não vivemos todos na mesma época embora tivéssemos andado juntos na escola. Os acontecimentos importantes, transversais, para todos nós poderão dar-se por ordem cronológica inversa. Somos todos diferentes. Alguns são mais iguais que outros. Exactamente por estes motivos perco a paciência com quem não entende que os nossos caminhos são todos diferentes.
Sempre tive um leque de amigos bastante heterogéneo e catalogado para as mais diversas situações: nunca tive a pretensão de os juntar numa Bimby e esperar que dali saísse uma grande criação... Caramba, é assim tão difícil de se entender que há misturas que devemos evitar? Que não funcionam? Que são como os ingredientes de um molho que "não liga?" Ou que pura e simplesmente as pessoas quando querem estar connosco é connosco que querem estar e não lhes devemos impingir nada nem ninguém? Por outro lado, há pessoas que são de tal ordem importantes na minha vida que faço questão de "partilhar", acompanhar e misturar. Talvez por serem as que mais se assemelham a mim, faço questão de as misturar porque sinto, no fundo, que nos vamos todos "acrescentar."

Ai ai... Eu passo-me!
Sou dicotómica, temperamental, etc etc.
Sim, de facto. Não estou fechada às novas pessoas que aparecem na minha vida: nem por sombras. Fascina-me o deleite inicial dessas pessoas, os pormenores que captam e que tanta vez esqueci, as palavras reconfortantes e a própria parvoíce da afirmação individual de cada um. Tudo isto me fascina, sim. Mas cansa-me.
Não tenho muita paciência para explicar o que quer que seja pois a vida, aos meus olhos, não carece de explicação. Incomoda-me o ar de espanto e de interrogação com que cada um se atreve a interpelar o outro. Não por curiosidade, não por desejo de sintonia, de entendimento: apenas puro pedantismo disfarçado de preocupação.
Há, ainda, aqueles que esfregam na cara dos outros que não têm vida emocional estável, sem família nem filhos, que a vida não vale a pena se não for vivida desta forma. Mas entretanto nós, os outros, aqueles que não têm marido/esposa nem filhos, somos os tipos cheios de sorte! Aqueles a quem a vida sorriu!

Pronto. Eu passo-me.
Alguém tem que explicar a esta gente que poucas são as pessoas que têm a vida que idealizaram! Que somos feitos de muita tristeza, muita mágoa, muita coisa negra, que ainda hoje nos deixamos iludir pelas mesmas coisas que nos iludiam na adolescência com uma agravante: já não recuperamos dessas tão rapidamente como outrora. Custa, demora e dói!
Alguém, por favor, explique a esta malta que cada um tem a vida que escolhe. E a que pode viver. Que a nossa vida é uma consequência de decisões passadas e que, quer queiramos quer não, temos que viver com ela. Ou então operar a mudança.
Alguém explique, encarecidamente, que eu não faço fretes. Não preencho calendário. Estou com quer estar comigo. Estar em partilha.
Não levo com gente que não me diz rigorosamente nada.

Eu passo-me com as pessoas novas.

Mas não tanto quanto me passo com as pessoas de sempre que teimam em deixar de ver aquilo que sempre as encantou. Que olham para mim como se já não me conhecessem.
Quando, na verdade, sempre fui assim. Só perdi a paciência.

Comentários

Mensagens populares