Liberdade

Às vezes "vejo-me e desejo-me" para explicar aos adolescentes do grupo de catequese conceitos como o da liberdade, o do respeito, o do amor próprio, o amor ao próximo.
Estou em crer que o COVID-19 fará isso tudo por mim.

Vivemos tempos novos. Desconhecidos para a maioria de nós.

Olhamos à volta e... é importante perceber quem usa a sua liberdade de forma responsável sem interferir, sem causar dano ao outro. Ao desconhecido.

Ao que poderá receber o dinheiro numa compra, que poderá ir ao supermercado depois de nós e precise, também ele, de papel higiénico ou atum ou carne ou legumes... Ao que abre as mesmas portas que nós, que as fecha.

Vivemos tempos que trazem à superfície, o que de melhor e pior as pessoas têm.

Até agora, vivemos estes tempos com a liberdade de sair quando queremos, como queremos.
Amanhã, não sabemos.

Já me têm perguntado se não me incomoda essa situação de quarentena obrigatória...
É lógico que incomoda. Mas mais me incomoda pensar que a todos nós nos chegam indicações de como proceder. Das mais diversas formas (ilustrações, mensagens no telejornal, mensagens entre programas, sms no telemóvel). E cada um escolhe, em consciência, como se comportar em sociedade. Infelizmente, não tenho gostado do que tenho visto. Somos uma lástima em termos de pensamento colectivo.

Tenho assistido ao relato de vários médicos espanhóis, italianos, portugueses e todos partilham a angústia, impotência e desespero no discurso. É preciso mais o quê, concretamente, para que TODOS olhem para este momento como uma verdadeira crise? Qual é a parte que ainda não se percebeu que não há meios físicos nem humanos para tratar muitas pessoas em simultâneo??

Há quem saiba dar valor à liberdade e é responsável ao recebê-la.
Já outros... Quando a perderem, talvez aí... talvez aí lhe comecem a dar valor.


José Eduardo Agualusa, foto: Mariana Ramos

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