Mimo

Houve alguém que me disse na semana passada, em tom de advertência, "esta senhora precisa é de mimo". Fiquei a pensar nisto até hoje. Não é que não saiba o que quer dizer "mimo", dar ou receber. Tenho é muita dificuldade em entender até que ponto sou atingida por ele.
De vez em quando, somos panelas de pressão. Em ebulição constante. Enquanto fervilha, está em actividade mas silenciosa. Quando ferve, e coze, lança-se o pânico. Só porque há algum tipo de som, instala-se o pânico. Há pessoas que são peritas em esconder este tipo de reacções. Outras, ao avesso, são peritas em prever o grito. A partir do momento em que se coloca a panela ao lume, já se sabe que ela vai apitar...
Sou de gritar antes de ferver. Quando começa a ferver, já eu estou sem voz. Não quer dizer, com isto, que não grite escusadamente e que não dê a mão à palmatória por o ter feito. Quer dizer que acuso a pressão antes. Que, quando chega a hora da verdadeira pressão, já eu estou sem forças e acabo por aceitar facilmente a situação. Nunca o fiz, nem farei, sem falar, reclamar, gritar, chorar e sofrer. Chega a hora "H" e eu estou como se nada fosse. Derrotada ou vitoriosa.
O mimo entra aqui como um simples passar de mão nas costas e dizer "deixa lá, não te enerves" ou passa por estar a aturar aquela barafunda toda?! É aqui que entra a minha dificuldade em encaixar o mimo. Considero-me uma pessoa minimamente organizada e gosto de algum fio condutor na minha vida. Aceito o acaso na medida em que pode trazer coisas muito positivas, novos desenvolvimentos, novas ideias, mas gosto de saber que terrenos piso, que objectivos foram traçados, o processo que implicará o seu alcance. Para mim o mimo pode ser apenas o simples facto de se fazer um esforço por vestir a minha roupa e usar os meus olhos. Até pode acabar por não o fazer, mas tenta-se. O mimo pode passar pela aceitação, ainda que momentânea, das minhas ideias e opiniões.
E relativamente a esse aspecto, meus amigos, vou tendo mimo esporadicamente. Vou tendo quem me aceite, na minha complexidade e "mau feitio", no meio da floresta que é a sociedade. Vou tendo quem me ajude a crescer como pessoa e como profissional que sou, e isto não é nada mais nada menos que mimo, para mim. Mil vezes este mimo às mãos nas costas. Mil vezes este mimo, que me irrita e me fervilha, ao mimo de viver os dias de forma igual.
A diferença é que no final dos processos houve qualquer coisa que me acrescentou. Algo que provocou emoção em mim, que me fez pensar. Aturamo-nos uns aos outros e mimamo-nos. Das formas mais inimagináveis possíveis.


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